FISIOLOGIA NEUROMUSCULAR APLICADA AO MÉTODO PILATES
por
Sabemos que em qualquer atividade motora – seja em uma prática esportiva ou nos movimentos do dia dia -, uma complexa sequência de reações químicas e elétricas são necessárias para podermos realizar um determinado gesto, a famosa contração muscular.
Apesar da Fisiologia Neuromuscular ser uma disciplina muito estudada na área da saúde, alguns detalhes podem se fazer determinantes quando falamos em resultados.
Neste artigo você verá:
- Princípios da Fisiologia Neuromuscular
- Um Resumo Simplificado sobre Contração Muscular
- Aprendizagem Motora
- Relação elétrica/química entre Córtex x Músculo
- Variando exercícios em aulas
- Função Neuromuscular
É comum durante um tempo de prática do Método Pilates, nossos alunos/pacientes apresentarem um platô de resultados.
Que tal aprender mais sobre a Fisiologia Neuromuscular? Então continue lendo este incrível texto! Vamos lá?
Princípios da Fisiologia Neuromuscular
Esse ingresso no processo (que chamamos de Homeostase) não é algo muito vantajoso.
Afinal, por mais que os resultados alcançados tenham sido satisfatórios até então, temos que lembrar que o processo de envelhecimento não estagna e esses bons resultados irão se perder em pouco tempo.
Levando em consideração que o Neurônio Motor possui uma fantástica adaptação aos estímulos motores, o peso do próprio corpo e a tensão gerada pelas molas, acabam se tornando insuficientes para promover o aumento da intensidade e consequente ganho.
Até porque com o uso das molas (levando em consideração que estão sendo utilizadas da forma correta), sua tensão diminuiu com a deformidade. Ficando muito difícil de mensurar a intensidade do exercício.
Outra questão que vamos levantar nesse texto, segundo o mecanismo da Fisiologia Neuromuscular, é a complexidade dos exercícios quanto co-relacionamos Movimento x Aprendizagem x Resultados.
Bem, então vamos lá mergulhar nesse mundo fantástico (e, às vezes, assustador), chamado Fisiologia Neuromuscular e como seus fundamentos podem ajudar a gerar resultados positivos constantes.
Um Resumo Simplificado sobre Contração Muscular
- Um movimento é proposto;
- Estímulos eletroquímicos acontecem no Sistema Nervoso Central, mas precisamente no Córtex Motor;
- Um potencial de ação é gerado em direção à um neurônio motor;
- Do neurônio motor este estímulo desloca-se pela bainha de mielina;
- Ultrapassando a fenda sináptica vai para o músculo através de neurotransmissores chamado Acetil Colina (no sarcômero muscular);
- No sarcoplasma ocorre o processo denominado despolarização onde o K+ (potássio) precisa sair do meio interno para que o Na- (sódio) possa atuar no meio celular e dar entrada para o Ca+ (cálcio);
- O Ca+ se liga a troponina + tropomiosina e promove a exposição do sítio de ligação (actina + miosina);
- Esta ligação para acontecer necessita de energia, onde será retirado um P (fosfato) do ATP (adenosinatrifosfato), sendo hidrolizado (H2O) até que…
- A energia liberada provoca o deslizamento da actina entre os filamentos de miosina, caracterizando o encurtamento das miofibrilas;
- Finalmente temos a nossa Contração Muscular.
Cada fibra muscular é composta por inúmeras miofibrilas que internamente contém os filamentos de actina e miosina.
Sendo aproximadamente 1500 unidades de miosina e 3000 unidades de actina, que vão desencadear essa contração muscular após todo esse processo de estímulos e potenciais de ação.
Mesmo de maneira simplificada, é fato o quanto a capacidade de gerar tensão em um músculo é um processo estressante e de grande dispêndio energético.
Um movimento para ser gerado requer ação cerebral e ação mecânica, ou seja, ainda mais custo energético para o organismo.
Aprendizagem Motora
Dentro do Córtex Motor se estabelece uma espécie de “bagagem motora”, movimentos que aprendemos no decorrer da vida vindo de nossas experiências ao acaso ou estimuladas.
Quando estamos diante de um movimento novo, o cérebro cria estratégias para a tentativa de realizá-lo.
Ele “escaneia” o movimento e, não o identificando na sua base de dados, recruta energia gerando uma fadiga no Governador Central.
Um “articulador central” que integra as informações centrais e periféricas envolvidas com o esforço – em termos de sensações de esforço envolvendo fortemente fatores emocionais.
Aqui Noakes, Lambert e St. Clair Gibson são categóricos em dizer que o exercício começa e termina no cérebro.
Relação elétrica/química entre Córtex x Músculo
No neurônio: familiarizar / armazenar / evocar o movimento = aprender, essas informações para uma próxima vez que esse movimento for solicitado.
Este aprendizado será armazenado na Bainha de Mielina, fazendo com que a resposta motora seja mais rápida por estar mais próxima da unidade motora, com economia de movimento e economia metabólica (energia).
Sabemos, que a capacidade de armazenar esses estímulos motores está mais sensível entre os 8 e 16 anos.
O processo de aprendizagem se dá até o último segundo de vida, mas o de armazenamento vai diminuindo com a idade.
Logo não é raro vermos nossos alunos aprendendo um determinado movimento, executando corretamente, porém, se esquecem do exercício com facilidade.
E dentro disso tudo que vimos sobre Aprendizagem, eu pergunto: Será que toda aula tem que ser diferente uma da outra?
Não estamos dificultando o processo de aprendizagem dos nosso alunos/pacientes já que este processo necessita de um certo TEMPO para se instalar?
Será que ficar inventando um monte de exercícios super elaborados, fadigando o Sistema Neural não está atrapalhando o trabalho muscular do seu aluno/paciente?
São questões para uma boa reflexão.
Variando exercícios em aulas
Muito se diz da aula/sessão de Pilates não cair em rotina, pois causa uma desmotivação no aluno/paciente. Ok, concordo, em partes.
Podemos deixar as aulas diferentes com os mesmos movimentos (até que sejam aprendidos), utilizando estratégias para variação de estímulos (intensidade).
O Pilates Contemporâneo nos dá a vantagem da criatividade, temos muitas formas de realizar o mesmo movimento de muitas maneiras, com acessórios, no solo, nos aparelhos… Enfim, podemos contribuir além do corpo, podemos exercitar Sistema Nervoso.
Exemplos: cada exercício pode ter muitos tipos de variações:
- No solo;
- Nos aparelhos;
- Com implemento de acessórios;
- Realizados unilateralmente;
- Em suspensão;
- Associado á outros movimentos .
Exercícios esses que terão sua Intensidade x Volume x Pausa x Velocidade de execução x Seleção de exercícios de acordo com o objetivo e consequente progressão dos resultados.
Uma variação mais fácil terá mais repetições, uma variação mais difícil terá menos repetições, por exemplo, modulando adequadamente um esforço compatível com a adaptação neuromuscular.
Função Neuromuscular
No Córtex Motor – a mensagem será enviada para o neurônio motor que irá inervar, excitar e recrutar as unidades motoras dependendo:
- Intensidade – das fibras que serão inervadas/excitadas/recrutadas (Tipo I, Tipo IIa ou Tipo IIx),
- Volume – da quantidade de repetições, séries, exercícios, sessões por semana, frequência de ativação de um grupo muscular
- Pausa– do substrato energético que será utilizado (Fosfocreatina, Glicose, Ácidos graxos)
- Velocidade de execução – do ritmo de execução, sem que se perca a qualidade do movimento.
- Escolha e ordem de exercícios – dos músculos sinérgicos, isolados, multiarticulares, monoarticulares que serão utilizados
CARACTERÍSTICA | FIBRA TIPO I | FIBRA TIPO IIa | FIBRA TIPO II x |
Nível de produção de força | Pequeno | Médio | Grande |
Velocidade de Relaxamento | Lenta | Média | Rápida |
Demanda Energética | Lipídeos (ácidos graxos) < contribuição Glicose / CHO > contribuição | Lipídeos / Glicose | Glicose / Fosfocreatina |
Metabolismo | Aeróbio (O2/ <mitocôndrias/ < hemoglobina) | Aeróbio/ AnaeróbioMisto | Anaeróbio (sem O2, > mitocôndrias, > hemoglobinas) |
Resistência à fadiga | Alta | Média | Baixa |
Com esses dados que nos mostram as características de cada tipo de fibra muscular, temos uma boa visão de como conduzir nossas sessões de pilates, de como podemos proporcionar evolução constante aos nossos alunos/pacientes.
Ou seja, esse estímulo terá que gerar alguma adaptação motora propondo diferentes níveis de potencial de ação, e isso interfere diretamente nos resultados a curto e longo prazo, ganhando força e resistência de força, potência e desenvolvimento neuromuscular, e principalmente funcionalidade.
Tudo isso nos trás a seguinte reflexão: O Pilates não é um Método engessado, ou melhor, nem deve ser!
Vejo muitos Instrutores passando o famoso 10 repetições. Por que? Onde temos embasamento científico que explique isso? Nunca encontrei essa resposta!
Diante de tudo isso, queridos instrutores, devemos ter a ousadia e coragem para levar seus pacientes/alunos à novos patamares. É preciso estudar, sim, muito. É preciso criar estratégias, sim, várias.
É preciso colocar como foco principal, como e quanto aquele estímulo vai , de fato, contribuir com a funcionalidade e qualidade de vida no meu aluno/paciente. Com certeza, esse é o grande objetivo desse texto.
Concluindo…
Devido a popularização do Método Pilates, os estudos científicos acerca dele cresceram muito.
Cursos de Especialização foram criados, artigos científicos e pesquisas vêm contribuindo consideravelmente. A Anatomia, a Biomecânica e a Fisiologia têm mostrado que ainda há muito para aperfeiçoar o Método.
Joseph Pilates foi, sem dúvida, genial dentro dos seus conceitos e idéias, um homem à frente do seu tempo, porém a época era extremamente frágil, devido à I Guerra, e a tecnologia rudimentar da época, com pouquíssimos recursos e nenhuma colaboração política. Dessa forma, o conhecimento era limitado.
Segundo palavras do próprio Mestre:
“Para obter as realizações mais elevadas do escopo das nossas capacidades em todos os aspectos da vida, devemos nos esforçar constantemente para desenvolver corpos fortes e saudáveis e para desenvolver nossas mentes ao máximo das nossas habilidades.”Joseph Pilates
Podemos, com muita humildade e cooperação, unir o passado, o presente e o futuro, os princípios clássicos e a ciência, a ideia e o saber.
Para melhorar o que já é magnífico e assim, contribuir ainda mais com nossos alunos e pacientes para que tenham uma saúde plena. Afinal, estamos atuando, por eles e para eles.
Nenhum comentário:
Postar um comentário